Pré-candidatos a prefeito questionam apoio dado por adversários a processos de privatização dos serviços

Problemas no fornecimento de energia em ao menos três capitais do país têm servido de munição eleitoral para pré-candidatos, que questionam os serviços prestados à população após privatizações promovidas nos últimos anos. Em São Paulo, Goiânia e Porto Alegre, que tenta superar os estragos causados pelas chuvas, o tema já motivou troca de acusações entre concorrentes e críticas às empresas que assumiram a tarefa de manter as luzes das cidades acesas.

Em São Paulo, o tema tem motivado troca de acusações entre o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e o deputado Guilherme Boulos (PSOL). De um lado, o emedebista cobra o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que apoia Boulos, a ter uma fiscalização mais efetiva do serviço da Enel, concessionária responsável pelo serviço. De outro, Boulos acusa o chefe do Executivo municipal de se omitir.

Desde o fim do ano passado, a capital paulista tem enfrentado sucessivos apagões. O Ministério de Minas e Energia determinou a abertura de um processo disciplinar contra a distribuidora, que pode levar à caducidade (cancelamento) do contrato de concessão da empresa. Procurada, a Enel alegou que cumpre com todas as obrigações.

— Falta comando, liderança, iniciativa e capacidade de diálogo com concessionárias (a Nunes) e por isso o governo federal está puxando para si (a responsabilidade) — disse o pré-candidato do PSOL na ocasião.

Nunes rebateu:

— Não posso multar, não posso tirá-la daqui. Quem faz isso é o governo federal — disse em março.

A privatização do fornecimento de energia também se tornou tema em Goiânia. Após sucessivos problemas com a distribuição no ano passado, o governador, Ronaldo Caiado (União), chegou a afirmar que a questão era seu “calvário”. Durante o processo de privatização, o nome defendido por ele na disputa pela prefeitura da capital, Sandro Mabel (União), era presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) e garantiu que a nova distribuidora teria apoio da entidade.

O atual prefeito, Rogério Cruz (Republicanos), evita críticas à empresa. Do outro lado, a adversária de Mabel e Cruz na eleição de outubro, a deputada federal Adriana Accorsi (PT), diz que a privatização foi “grave erro”.

— Tanto que países que privatizaram essas áreas estão reestatizando. Sou contra e acredito que este é um grande diferencial entre nossas pré-candidaturas — disse Adriana.

A capital gaúcha é outro exemplo desse embate. Novamente às voltas com problemas no fornecimento de energia, dessa vez motivada por enchentes, o prefeito Sebastião Melo (MDB), pré-candidato à reeleição, cobrou em janeiro a CEE Equatorial a dar respostas sobre a falta de luz. Na ocasião, a interrupção do serviço havia parado o funcionamento de estações de tratamento de água, deixando 1,2 milhão de pessoas desabastecidas.

Árvores sem poda

No início do ano, quando houve o embate, a empresa apontou que mais da metade das ocorrências de falta de luz tinha como motivação árvores atingindo a rede elétrica após um temporal. A explicação foi vista como tentativa de transferir a responsabilidade para a prefeitura, que tem o dever de podar a vegetação urbana.

Estudo da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aponta uma piora nos serviços da distribuidora, como o tempo para atendimento de ocorrências. Procurado, Melo disse que a relação com a empresa melhorou no início do ano.

— É perfeito? Não, mas melhorou muito — afirmou.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS), principal concorrente de Melo, cita o apoio dele à privatização, em 2019, quando era deputado estadual.

— O prefeito votou pela privatização — disse ela.


Fonte: O GLOBO