Decisão de adiar os jogos dos times gaúchos até o dia 27 de maio e manter o resto do futebol brasileiro funcionando é difícil, é controversa, mas faz sentido
Em meio a tanta tristeza, diante de tamanha tragédia no Rio Grande do Sul, o esporte foi capaz de oferecer sua melhor face. O goleiro Sergio Rochet servindo comida para desabrigados, o atacante Diego Costa participando ativamente do resgate de gente ilhada, o volante Thiago Maia metido na água até o pescoço carregando uma senhora nos ombros.
Atletas da seleção brasileira de remo deixaram de disputar um torneio na Suíça que poderia dar a eles vagas na Olimpíada de Paris para ajudar as vítimas da enchente. Alef Fontoura, Evaldo Becker e Daniel Lima preferiram se unir a companheiros de remo que já estavam trabalhando ao lado de voluntários. Não há medalha que supere tal gesto.
Também foram muito sensatas as manifestações dos presidentes de Grêmio e Inter, Alberto Guerra e Alessandro Barcellos. Especialmente quando recusaram as ofertas para treinar e jogar fora de Porto Alegre. Não é razoável que se discuta essa possibilidade enquanto a situação é tão grave. Ainda que fosse possível fabricar uma bolha e transportar os times para treinar e jogar em outros estados, a simples suposição de que atletas, comissões técnicas e demais funcionários de Grêmio e Inter pudessem deixar para trás suas famílias é uma atrocidade, uma indignidade. Guerra e Barcellos fizeram bem ao deixar claro que nem sequer cogitaram tal hipótese.
Até a CBF tem agido com equilíbrio — embora pudesse doar muito mais do que apenas R$ 1 milhão, já que na semana anterior registrou com orgulho um “superávit recorde” (aspas deles) de R$ 238 milhões só em 2023. Está claro que existe financiamento possível para um grande plano de recuperação do futebol gaúcho.
A decisão de adiar os jogos dos times gaúchos até o dia 27 de maio e manter o resto do futebol brasileiro funcionando é difícil, é controversa, mas faz sentido. A suspensão de competições nacionais espalharia para mais clubes, de outros estados do Brasil, os efeitos negativos das enchentes no Rio Grande do Sul. A memória da pandemia ainda está fresca: em tempos difíceis, os primeiros castigados são os menos protegidos, os mais expostos, o enorme contingente de trabalhadores temporários, os que dependem da realização de jogos para sobreviver. Os prejudicados não seriam os grandes contratos, os grandes negócios, mas justamente quem está no outro extremo deste espectro.
Evidentemente são razoáveis os argumentos esportivos de quem sugere a paralisação dos campeonatos nacionais, especialmente da Série A do Campeonato Brasileiro. Causa aflição olhar para a tabela e imaginar que, daqui a algumas semanas, haverá três times (Grêmio, Inter, Juventude) com muito menos jogos do que os outros, provavelmente com menos pontos, talvez na zona de rebaixamento, obrigados a se recuperar na classificação em condições certamente adversas — prejudicados na preparação física, abalados psicologicamente, talvez mandando seus jogos longe de casa e sem torcida.
Mas, por enquanto, é melhor que o Campeonato Brasileiro seja transformado num grande centro de arrecadação de ajuda a quem precisa. Seria ainda melhor se mais clubes seguissem o exemplo do Palmeiras, que vai doar toda a renda de seu próximo jogo.
Fonte: O GLOBO
Também foram muito sensatas as manifestações dos presidentes de Grêmio e Inter, Alberto Guerra e Alessandro Barcellos. Especialmente quando recusaram as ofertas para treinar e jogar fora de Porto Alegre. Não é razoável que se discuta essa possibilidade enquanto a situação é tão grave. Ainda que fosse possível fabricar uma bolha e transportar os times para treinar e jogar em outros estados, a simples suposição de que atletas, comissões técnicas e demais funcionários de Grêmio e Inter pudessem deixar para trás suas famílias é uma atrocidade, uma indignidade. Guerra e Barcellos fizeram bem ao deixar claro que nem sequer cogitaram tal hipótese.
Até a CBF tem agido com equilíbrio — embora pudesse doar muito mais do que apenas R$ 1 milhão, já que na semana anterior registrou com orgulho um “superávit recorde” (aspas deles) de R$ 238 milhões só em 2023. Está claro que existe financiamento possível para um grande plano de recuperação do futebol gaúcho.
A decisão de adiar os jogos dos times gaúchos até o dia 27 de maio e manter o resto do futebol brasileiro funcionando é difícil, é controversa, mas faz sentido. A suspensão de competições nacionais espalharia para mais clubes, de outros estados do Brasil, os efeitos negativos das enchentes no Rio Grande do Sul. A memória da pandemia ainda está fresca: em tempos difíceis, os primeiros castigados são os menos protegidos, os mais expostos, o enorme contingente de trabalhadores temporários, os que dependem da realização de jogos para sobreviver. Os prejudicados não seriam os grandes contratos, os grandes negócios, mas justamente quem está no outro extremo deste espectro.
Evidentemente são razoáveis os argumentos esportivos de quem sugere a paralisação dos campeonatos nacionais, especialmente da Série A do Campeonato Brasileiro. Causa aflição olhar para a tabela e imaginar que, daqui a algumas semanas, haverá três times (Grêmio, Inter, Juventude) com muito menos jogos do que os outros, provavelmente com menos pontos, talvez na zona de rebaixamento, obrigados a se recuperar na classificação em condições certamente adversas — prejudicados na preparação física, abalados psicologicamente, talvez mandando seus jogos longe de casa e sem torcida.
Mas, por enquanto, é melhor que o Campeonato Brasileiro seja transformado num grande centro de arrecadação de ajuda a quem precisa. Seria ainda melhor se mais clubes seguissem o exemplo do Palmeiras, que vai doar toda a renda de seu próximo jogo.
Fonte: O GLOBO
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