Edu Rocha, de Curitiba, e Amanda Nogueira, de Fortaleza, criaram vínculo com evento e voltam todo ano

Há duas décadas, duas mil pessoas — maioria absoluta de cariocas — saíram pelas ruas da cidade para correr os primeiros 42km na estreia da Maratona do Rio, em 2003, nos moldes atuais. Aquele mundinho restrito a corredores profissionais (ou quase) se expandiu. E muito. Esta semana o Rio de Janeiro recebe quatro dias (de quinta a domingo) do maior evento de corrida do país com o recorde de 45 mil inscritos nas cinco provas: 5k, 10k, 21k, 42k e o Desafio Cidade Maravilhosa (21k + 42K).

Se há 20 anos o sotaque era tipicamente carioca, hoje pode-se dizer que uma babel brasileira toma conta das vias da Zona Sul e do Centro do Rio por onde passam os trajetos das provas. O outro recorde da 22ª edição da corrida é justamente o percentual de inscritos de fora do estado: 81% (12% a mais que o ano passado).

Os recordes da Maratona do Rio — Foto: Editoria de Arte

A maioria vem de São Paulo (32%), seguido por Minas Gerais (13,5%), Bahia e Pernambuco (ambos com 4%). Do Rio, são 19%. Mas praticamente todo o Brasil estará representado nas diversas provas que vêm conquistando todo o tipo de atleta amador.

E quem prova o gostinho de correr com o belo visual ao fundo repete a dose. É o caso dos professores Amanda Nogueira (de educação física) e Eduardo Rocha (de matemática), que, pela assiduidade no evento, se tornaram embaixadores das provas de 5k e do Desafio Cidade Maravilhosa, respectivamente.

Maratona do Rio — Foto: Editoria de Arte

A cearense e o paranaense têm em comum o calendário apertado pelo extenso ano letivo para se dedicar a corridas fora dos seus estados. Restam a eles os meses de férias (julho e dezembro) ou as escapadas em feriados. É o caso da Maratona do Rio, que, pela primeira vez, ocupa quase todo o feriadão de Corpus Christi— só não terá prova na sexta-feira, algo que deve mudar em 2024, com a migração dos 10k para esse dia.

A data do evento permite que os corredores venham em família, com atrações para todos — haverá shows e ativações das mais de 30 marcas envolvidas. Por isso, são esperadas 120 mil pessoas no total, com grande movimentação na rede hoteleira da cidade e no Aeroporto Tom Jobim, que também estará preparado para dar as boas-vindas aos corredores-turistas da Maratona do Rio.

A "Major" possível

Convidado para ser o embaixador do desafio este ano, Edu, de 47 anos, fez os 63km em sua primeira vez na corrida carioca, em 2019. Após uma pandemia e problemas físicos, o curitibano, que contabiliza 17 maratonas no currículo, se preparou para repetir a dose no evento que considera a sua “Major” (o grupo das principais maratonas do mundo).

— Eu tinha um grande sonho de fazer uma Maratona no Rio, não só por ser a maior da América Latina. Mas as Majors são provas que acontecem durante o nosso período letivo, não tenho como ter uma semana de folga para correr uma delas. Pra mim, a Major é a Maratona do Rio — diz ele, que chega ao Rio na quinta-feira com a mulher, que faz questão de participar da viagem. — Ela sempre diz: “Você pode viajar sozinha para qualquer lugar para correr, para trabalho... Mas, no Rio, eu vou e ponto final.

Amanda Nogueira, de Fortaleza, vem ao Rio desde 2019 — Foto: Foto Radical

Um fim da depressão

Apesar da longa carreira na educação física, Amanda só foi picada pelo tal bichinho da corrida há 10 anos. A ideia era só realizar o sonho de fazer uma São Silvestre. Treinou por nove meses e, em 2014, foi lá e fez. Mas foi um caminho sem volta.

Largou a vida boêmia em Fortaleza pelos treinos matutinos, empilha quatro maratonas nas ruas do Rio, dois desafios Cidade Maravilhosa e uma depressão contornada graças ao vento na cara.

—Eu costumava chegar em casa às 5h da manhã. Aí me tornei a pessoa que sai às 5h da manhã para correr. Quem me viu e quem me vê — brinca Amanda, que prefere não revelar a idade, e relembra o período difícil durante a pandemia. — Estava treinando para o desafio de 2021 quando fiquei mal. Resolvi fazer os 21k naquele ano. Fiz numa condição deplorável, mas fiz. Foquei no ano seguinte, me recuperei e corri os 63k. O que é a depressão para quem consegue realizar o Desafio da Cidade Maravilhosa.

O desafio agora do evento é fazer caber mais gente. Nesta edição, a maratona vai receber 10 mil pessoas, os 21k, quase 20 mil.

—Nosso objetivo é sempre que o corredor tenha uma boa experiência. O limite da prova é acordado junto aos órgãos públicos e, claro, sempre com um olhar que não atrapalhe a prova e a dinâmica na cidade. Acreditamos que temos um potencial de crescimento em 42k, 10k e 5k. Mas isso requer ainda um estudo mais apurado — diz João Traven, diretor da Spiridon e sócio-fundador da Maratona do Rio.


Fonte: O GLOBO