Agressão teria durado oito horas, resultando em uma internação de seis dias
— Nas minhas redes sociais, eu fazia lives com conteúdos diversos relacionados à Psicologia. Falava sobre traumas, ressignificação pessoal, suicídio, abuso sexual, abandono parental, violência doméstica. Falava sobre fé, mesmo (para aqueles) sem religião — conta.
Pereira é autor de dois livros: "Por que pessoas empáticas atraem narcisistas?" e "Morte - Uma meditação sobre a dor". Na corporação, na qual ele não pretende continuar, ele chegou a ser campeão de um torneio de futebol.
Durante as oito horas de tortura a que teria sido submetido, Danilo afirma que foi obrigado a cantar uma música com letra degradante. A letra faria referência à atuação dele nas redes sociais: “Eu sou fanfarrão, eu gosto de atenção, sou coach do fracasso, me faço de palhaço, envergonho minha família, envergonho minha unidade, eu sou carente e ninguém gosta de mim”.
'Nessa hora eu caí'
Ao GLOBO, Pereira contou detalhes da agressão, que resultou em uma internação de seis dias. Segundo ele, ainda no primeiro dia do curso, durante a apresentação dos candidatos ao BPChoque, o tenente Marco Teixeira, um dos 14 policiais que teve a prisão decretada pela Justiça, teria avisado que Danilo não iria se formar.
— Ele disse que, se eu não desistisse, ele iria me desligar por lesão ou insuficiência técnica — lembra.
A sessão tortura, narra, aconteceu no próprio batalhão, à luz do dia, na presença de outros policiais.
— Tive que correr com o tronco sobre a minha cabeça enquanto levava pauladas. Depois ele me colocou na frente da sala de aula e mandou eu fazer flexão de punho cerrado em cima da brita. Foi aí que começaram as pauladas na cabeça e chutes no estômago — descreve.
Em seguida, Danilo teria sido levado para um local onde foi socado no estômago e sucessivamente espancado.
— Nessa hora eu caí, e recebi a paulada na minha lombar. A todo tempo o tenente pedia para eu assinar minha desistência. Depois dessa agressão, ele me obrigou a carregar um sino de aço de cerca de 50kg, um paralelepípedo, de uns 60kg, e então um cilindro ainda mais pesado. Foi nessa hora que lesionei a lombar, e eles me agrediram mais um pouco. Aí, pedi a folha para assinar.
De acordo com o policial, após a assinatura o tenente coordenador do curso teria comemorado com um grito e, a partir de então, agiu como se nada tivesse acontecido.
Entenda o caso
O Ministério Público do Distrito Federal pediu a prisão temporária de 14 policiais militares acusados de praticarem tortura contra o soldado durante o curso de formação. A prisão foi efetuada pela 3ª Promotoria de Justiça Militar e a Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal.
Além das prisões, também foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão de celulares dos militares e a suspensão do curso, bem como o afastamento do comandante do BPChoque, até o encerramento das investigações. Também foram determinados o acesso ao prontuário médico da vítima para elaboração do laudo de exame de corpo de delito.
Danilo estava na PM há quatro anos, quando decidiu tentar uma vaga no patrulhamento tático móvel do Batalhão de Choque da PM do Distrito Federal.
No fim desta segunda-feira, a PM-DF divulgou uma nota — veiculada pelo Jornal Nacional, da TV Globo — afirmando que não admite desvios de conduta e que apura os fatos de maneira criteriosa e imparcial. A defesa de 13 PMs presos nesta segunda disse que eles foram surpreendidos com a operação e que vai apresentar as versões de cada um.
Fonte: O GLOBO
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