É a primeira viagem de Putin ao estrangeiro desde sua reeleição

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reuniu-se com o líder chinês, Xi Jinping, em Pequim, nesta quinta-feira, no início de uma visita de dois dias com objetivo de demonstrar proximidade ao aliado com quem anunciou uma "aliança sem limites" há dois anos.

Em sua primeira viagem ao estrangeiro após assumir seu quinto mandato a frente do Kremlin — e segunda à China em menos de um ano —, Putin foi recebido por Xi no Grande Salão do Povo de Pequim. A prioridade foi dada a um aliado cujo apoio econômico é considerado vital para a Rússia, sobretudo após as sanções impostas pelos países ocidentais por sua ofensiva contra a Ucrânia.

O clima entre os líderes não-alinhados ao Ocidente aconteceu em clima amistoso. Xi chamou Putin de "velho amigo", ao passo que o presidente russo se declarou "agradecido" à China por suas iniciativas de paz na Ucrânia. Em uma conferência de imprensa conjunta, um endereçou temas de interesse do outro.

Putin classificou como "prejudicial" qualquer aliança política e militar "fechada" na região Ásia-Pacífico, onde Pequim trava uma disputa com os Estados Unidos por influência. Além das tensões históricas envolvendo Taiwan, um ponto de atrito direto entre os chineses e americanos, Washington investiu na criação da aliança Aukus, de cooperação militar, com Austrália e Reino Unido, para enfrentar a influência chinesa. No mesmo sentido, o presidente americano, Joe Biden, também estreitou cooperação estratégica com o Japão.

Xi, por sua vez, declarou que a relação entre Pequim e Moscou "não é apenas de interesse fundamental para os dois países e os dois povos, mas igualmente é propícia à paz".

Putin e Xi se entreolham enquanto posam para foto em Pequim — Foto: Sergei Bobylyov/AFP

— A atual relação entre China e Rússia foi conquistada com esforço. As duas partes devem apreciá-la e cultivá-la — insistiu o líder chinês, segundo trechos do discurso divulgados pelo Ministério das Relações Exteriores do país.

O presidente russo ainda destacou que relações entre os dois países "não são oportunistas, nem direcionadas contra ninguém".

— Nossa cooperação nos temas internacionais é um dos fatores de estabilidade no cenário internacional — disse Putin, segundo a transmissão nos canais de televisão russos.

'Solução política' para a Ucrânia

Embora a viagem de Putin pretendesse reafirmar a amizade "sem limites" que os dois presidentes proclamaram em 2022, a pauta da agenda também incluiu comentários sobre a guerra na Ucrânia, onde as operações russas conquistaram avanços importantes nos últimos dias, sobretudo na região de Kharkiv.

Xi foi cobrado pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken, em um encontro entre os dois no mês passado, sobre o apoio concedido pela China à Rússia e como dificultava uma saída para o conflito. Blinken disse que Pequim ajudou Moscou a aumentar a produção de foguetes, drones e tanques. Nesta quinta, o líder chinês defendeu uma saída política.

— As partes concordam que o caminho a seguir é o de uma solução política para a crise na Ucrânia — declarou Xi à imprensa, destacando também que "a posição da China nesta questão sempre foi clara"

A China pede com frequência respeito à integridade territorial de todos os países (incluindo, implicitamente, a da Ucrânia), mas também defende que as preocupações da Rússia em termos de segurança sejam levadas em consideração.

Xi ignorou as críticas ocidentais ao estreitar a relação com Putin. A relação com a Rússia que permite à China importar energia barata da Rússia e ter acesso aos seus vastos recursos naturais.

— Esta é a primeira viagem de Putin desde a sua posse e pretende demonstrar que as relações China-Rússia entraram em outro nível — declarou o analista político russo independente Konstantin Kalachev à AFP. — Sem falar na amizade pessoal, visivelmente sincera entre os dois líderes.

Ambos os líderes vão assinar uma declaração conjunta e participar de uma cerimônia para comemorar o 75º aniversário das relações diplomáticas bilaterais, disse o Kremlin.

Durante a visita, Putin também se reunirá com o primeiro-ministro Li Qiang e viajará para a cidade de Harbin, no nrdeste, na sexta-feira, para uma feira comercial e de investimentos.

Por seu lado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês referiu que ambos os líderes abordarão “as relações bilaterais, a cooperação em vários domínios e questões internacionais e regionais de interesse comum”.

Parar o comércio

Uma dessas questões será provavelmente a guerra na Ucrânia, na qual a China afirma ser um ator neutro, apesar das críticas ocidentais por não ter criticado a invasão lançada por Moscou.

Após a invasão da Ucrânia, o comércio entre China e Rússia disparou para um nível recorde de US$ 240 bilhões (R$ 1,2 trilhões) em 2023, segundo dados dos serviços alfandegários de Pequim. No entanto, as exportações da China para a Rússia caíram em março e abril, em relação ao ano anterior, depois de os Estados Unidos terem ameaçado aplicar sanções aos bancos chineses.

O decreto assinado em dezembro por Biden prevê sanções aos bancos estrangeiros ligados à máquina de guerra russa e os deixa fora do sistema financeiro global, baseado no dólar. Essa ameaça, aliada ao desejo de reparar as relações com Washington, torna Pequim mais relutante em reforçar a sua cooperação com a Rússia, apesar da vontade de Moscou, dizem os analistas.

Alexander Gabuev, diretor do Carnegie Eurasia Russia Center em Berlim, diz que os bancos chineses estão aplicando o princípio de que “é melhor prevenir do que remediar, o que reduz o volume de transações”.

— Descobrir se os pagamentos estão relacionados com o complexo industrial militar da Rússia está criando um desafio considerável para as empresas e bancos chineses — disse. (Com AFP)


Fonte: O GLOBO