Ondas de calor e praga atingiram as lavouras em Minas e São Paulo. Com cotações internacionais em alta, muitos produtores têm preferido exportar

Porto Velho, Rondônia - A safra de laranja do Brasil, um dos principais produtores do fruto no mundo, deve ser a pior em mais de três décadas, como reflexo das fortes ondas de calor que atingiram as regiões produtoras de São Paulo e Minas Gerais no ano passado. As lavouras também foram atingidas por uma praga.

Segundo projeção da consultoria Fundecitrus, a próxima colheita, a ser realizada entre este ano e o primeiro semestre de 2025, deve ser de 232,4 milhões de caixas – cada caixa tem 41 quilos de laranja. Para se ter uma ideia, nos últimos dez anos, a safra tem girado em torno de 308 milhões de caixas. Se confirmada a previsão, a atual safra será a menor em 26 anos, com queda de 24,3% na comparação com a colheita anterior.

Com a menor oferta da fruta, os preços já estão em forte alta nos supermercados e feiras. Segundo dados do IBGE, a laranja-pera subiu 22,76% até abril, segundo dados do IPCA-15. E a laranja-lima, 19,56%. Em feiras livres do Rio de Janeiro, o quilo da laranja-pera já é vendido por R$ 10.

E no campo o preço segue em alta nos últimos dias. Segundo levantamento do Cepea/USP, em Limeira, principal região produtora em São Paulo, a caixa com 41 quilos saiu de R$ 28,33 em janeiro de 2022 para R$ 55 no fim de abril e agora já está em R$ 70.

'Greening', a praga que afeta o sabor da laranja

Segundo a Fundecitrus, as condições climáticas estão cada vez mais desafiadoras. E, nos últimos meses, casos de greening, doença que atinge os vasos distribuidores de seiva na laranjeira, diminuíram em 29% o número de frutos nas árvores. Apesar disso, é esperado que elas sejam 5% maiores, compensando parte da perda.

— É o grande desafio da citricultura controlar essa doença. Estados Unidos, Belize e Costa Rica, outros importantes produtores, também enfrentam o problema, que atinge não só a laranja, mas também as produções de limão e tangerina — diz Paulo Edson Pratinha, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Suco Integral (SucosBR).

Segundo ele, a fruta que veio de uma laranjeira acometida pela praga tem seu sabor alterado. O banco Rabobank estima que 40% das lavouras de laranja nas principais regiões produtores do Sudeste tenham sido afetadas pelo greening.

Alta recorde no exterior

Os problemas na safra brasileira veem depois de anos ruins nos Estados Unidos, outro grande produtor global. Lavouras da Flórida, principal região de laranjas do país, foram devastadas em 2022 pelo furacão Ian e, depois, por uma onda de frio. Com isso, no mercado externo, a cotação dos sucos de laranja tem batido recorde e chegaram a US$ 4,92 em maio, pico histórico e mais do que o dobro do preço de um ano atrás.

Com o dólar cotado acima dos R$ 5 desde o fim de março - a moeda alcançou os R$ 5,25 nesta quinta-feira - e a diminuição da oferta da fruta em outros mercados produtores mundo afora, Pratinha diz que a busca pela laranja brasileira fica ainda mais acirrada. Para o produtor nacional, aumenta a vantagem pela opção de exportação:

— Com a disponibilidade menor no mundo e o dólar nesse patamar, o preço internacional fica extremamente atraente, com a exportação se tornando mais atrativa do que o mercado interno.

Impacto nos sucos

Nos mercados paulistas, os sucos de frutas e a laranja também refletem a menor disponibilidade do fruto, aumentando de preço. Segundo o Índice de Preços de Supermercados (IPS), medido pela Fipe e pela Associação Paulista de Supermercados (Apas), só em 2024 a laranja registra aumento de 16,82% na seção de hortifrutis da rede no Estado.

A variação é maior do que a média das frutas, que valorizaram 7,11% desde janeiro. De maio do ano passado até hoje, a laranja já acumula valorização de 39,32%.

Apesar do aumento acumulado nas prateleiras em 2024, a tendência, com a chegada do inverno, é que o preço da fruta desacelere. É o que diz Felipe Queiroz, economista-chefe da associação:

— Há um aspecto sazonal. Entram outras frutas de época na cesta do consumidor, que se diversifica. Nos cítricos, as pessoas optam pela tangerina, por exemplo. Então, há tendência de queda do preço até agosto — diz ele, sinalizando que esse movimento já se iniciou.

As associações paulista e fluminense de supermercados dizem que o fornecimento dos produtos de laranja não apresenta problemas, mas segundo Pedro Paulo Leite, encarregado de compras do Supermercados Mundial, no Rio, há dificuldades de se obter sucos integrais com os fornecedores para pôr nas gôndolas da rede:

— Segundo a indústria, isso tem sido provocado pelos efeitos do El Niño, que quebrou a safra — diz.

Segundo ele, os sucos com percentuais menores de concentração, que levam outras frutas na mistura, não apresentam escassez. A rede Prezunic disse que também tem percebido a migração de alguns fabricantes para sabores mistos.


Fonte: O GLOBO