Município do Pantanal teve redução de 261 mil hectares de água, 53% abaixo da média histórica, segundo MapBiomas
Os números do levantamento mostram que a cidade pantaneira teve 261 mil hectares de superfície de água a menos que o valor médio da série histórica desde 1985 para o município. O valor é 53% menor que a média. No top5 das cidades com maior retração de superfície de água, há outras três do Centro-Oeste: Cáceres (MT), em segundo; Poconé (MT), em terceiro; e Aquidauana (MS), em quinto. Barcelos (AM) completa o pódio. Entre todas as cidades brasileiras, 53% teve superfície de água abaixo da média histórica, em 2023.
De acordo com o MapBiomas, o Pantanal foi o bioma que mais secou no país desde 1985. Os dados, revelados nesta terça (25) pela coluna da Miriam Leitão, mostram que a área de superfície de água — formada por corpos hídricos naturais, como rios e terrenos alagados, e também por reservatórios — do ano passado foi 61% menor que a média histórica, no Pantanal.
Os primeiros seis meses de 2024 são um recorde de incêndios na série histórica, o que levou o governo do Mato Grosso do Sul a decretar situação de emergência no estado nesta segunda (24).
Em 2018 houve a última grande cheia do bioma, conhecido pelas suas áreas alagadas. Mas mesmo naquele ano a água já estava abaixo da média histórica. E o que era preocupante se agravou: em 2023, a superfície de 382 mil hectares representou metade da área alagada de 2018 e apenas 2,6% do bioma foi coberto por água.
— A corrente de água que vem da Amazônia, os chamados rios voadores, está diminuindo por causa do desmatamento na região. Outro problema é que no planalto, no entorno do Pantanal, muitas áreas estão sendo convertidas em pastagem ou em campos de soja. E isso aumentou muito o assoreamento da Bacia do Paraguai, porque está vindo muito sedimento. Tanto que o Pantanal está ficando mais raso. E tem um terceiro problema que é a destruição do pasto natural para ser substituído pelo pasto plantado — explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.
A seca no Pantanal — Foto: Editoria de Arte
Em um cenário de mudanças climáticas, o desmatamento não só impede a possibilidade de mitigação de impactos como acelera as emissões de gases de efeito estuda e intensifica os eventos extremos. Somado a esse contexto, o recente El Niño intensificou a seca.
— Mudanças climáticas vão continuar agravando essa situação, tornando esses períodos de seca cada vez mais intensos e frequentes. Não só no Pantanal, mas nos outros biomas — explica Fernando Rodovalho, especialista em manejo integrado do fogo do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê).
A seca do Pantanal ao longo do tempo — Foto: Editoria de Arte com dados do MapBiomas
De acordo com projeções do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), se a situação continuar assim, mais de 2 milhões de hectares de área do Pantanal podem ser queimados até o final do ano. Até domingo (23), a área queimada já havia alcançado 627 mil hectares. Em 2020, ano em que um terço do bioma foi devastado, foram 4,5 milhões de área queimada.
— Em 2024, nós não tivemos o pico de cheia. O ano registra um pico de seca, que deve se estender até setembro. O Pantanal em extrema seca já enfrenta incêndios de difícil controle — ressalta Eduardo Rosa, do MapBiomas Pantanal.
Combate a incêndio na região do Paraguai-mirim, fica há cerca de 2h30 por embarcação rio Paraguai acima, saindo de Corumbá (MS) — Foto: Brigada Alto Pantanal/IHP/09-06-2024
A bacia do Rio Paraguai, que é a principal bacia hidrográfica do bioma, está com níveis extremamente baixos neste ano. No período de 1º de janeiro a 24 de junho, a média do nível do rio, na altura de Ladário (MS), vizinha de Corumbá (MS), foi de apenas 92 centímetros. A efeito de comparação, a média do rio no ano passado foi de 2,56 metros e de 1,30 metro em 2020.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou na segunda-feira que as queimadas no Pantanal são "fora da curva" e "uma das piores situações já vistas" no bioma.
— Na Amazônia, a estiagem leva a esforços em relação à logística e abastecimento. E, no Pantanal, tem a ver com logística e incêndio. Porque nós estamos diante de uma das piores situações já vistas no Pantanal — disse a ministra.
A Junta de Execução Orçamentária (JEO) se reunirá nesta quarta (26) para discutir a necessidade de crédito extraordinário destinado ao enfrentamento dos incêndios. Além disso, o governo federal prometeu o envio de sete aeronaves e 50 homens da Força Nacional para o combate ao incêndio.
Já o governo estadual do Mato Gorro do Sul publicou um decreto de emergência na segunda, a fim de facilitar o envio de recursos aos municípios. A Operação Pantanal 2024 foi iniciada no dia 2 de abril e instalou 13 bases avançadas no bioma, para reduzir o tempo de resposta ao fogo em locais mais isolados. Segundo o governo, já foram investidos R$50 milhões na estrutura de enfrentamento ao fogo.
Superfície de água reduziu em todo o país
Segundo o MapBiomas Água, 18,3 milhões de hectares do Brasil, ou 2% do território nacional, foram cobertos por água em 2023. O número é 1,5% menor em relação à média histórica. Metade das bacias hidrográficas do país estiveram abaixo da média. Desde 1985, o Brasil perdeu 30% de sua superfície de água natural.
Os casos mais graves ano passado aconteceram justamente nos estados do Pantanal: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que perderam, respectivamente 33% e 30% da superfície de água.
Na Amazônia, que sofreu com uma seca extrema em 2023, houve a maior queda em números absolutos: redução de 3,3 milhões de hectares, ou 2,8%, em relação à média histórica.
O Cerrado teve recorde de superfície de água em 2023, mas a maioria fica em reservatórios e não nos rios. Desde 2003 essa proporção se repete. Hoje, 37,5% da superfície de água do Cerrado está em corpos naturais, enquanto 62,5% se dividem entre hidrelétricas e reservatórios. Em 2023, a superfície foi de 1,6 milhão de hectares ou 9% do total nacional, valor 11% acima da média histórica.
Outros biomas que tiveram superfícies de água acima da média foram Caatinga e Mata Atlântica. Após sete anos de seca, a Caatinga volta a ter ciclo chuvoso consolidado, apontou Mapbiomas.
Já o Pampa, mesmo com as enchentes no Sul, teve superfície de água 40% menor que a média história, em 2023. Apesar das fortes chuvas no final do ano, os primeiros meses da região foram de extrema seca.
Fonte: O GLOBO
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