Estudo foi realizado por cientistas do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais

Um estudo realizado pelo Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais apresentou os efeitos nocivos que os rejeitos de mineração causam em insetos nativos do Rio Doce. O curso d'água foi contaminado após o rompimento da barragem de Fundão da mineradora Samarco/Vale/BHP, em Mariana, em 2015. A publicação foi compartilhada nesta terça-feira.

Os efeitos totais do rompimento da barragem ainda são, de certa maneira, incertos, visto que muitos animais passam uma de suas fases de vida dentro da água. Portanto, dependem de uma boa condição nos rios para sobreviver e se desenvolver plenamente.

De acordo com o que foi apurado pela UFMG na pesquisa, esses insetos são organismos muito sensíveis às alterações na água. Logo, contaminações em fase larval afetam diretamente seu crescimento e as deformações surgidas são uma resposta ao desequilíbrio ambiental provocado pela mineração.

Por ser muito comum na região, os especialistas elegeram uma mariposa da espécie Smicridea coronata como representativa para avaliação da presença de rejeitos de mineração na bacia hidrográfica do Rio Doce.

Especialistas elegeram uma mariposa da espécie Smicridea coronata como representativa para avaliação da presença de rejeitos de mineração na bacia hidrográfica do Rio Doce — Foto: Reprodução/UFMG

Geralmente caracterizados por ter cobertura de pelagem nas quatro asas, cabeça e tórax, essas pequenas mariposas podem apresentar consequências que afetam seu desenvolvimento e sobrevivência, o que influencia inclusive no funcionamento do ecossistema.

Parte da metodologia usada pela pesquisa partiu do pressuposto de que os indivíduos contaminados apresentam assimetrias corporais. Após coleta, foi comprovado que há uma maior concentração de insetos deformados nas áreas impactadas da bacia em relação a áreas não impactadas.

"As mandíbulas de larvas coletadas nos ambientes impactados apresentaram mudanças na posição dos dentes. Esse problema interfere na capacidade de alimentação, na proteção e na metamorfose dos insetos, especialmente no processo de produção de seda no aparelho bucal para construir os abrigos onde se transformam em pupa antes de passar para a fase adulta. Essas variações assimétricas no corpo dos insetos podem, a longo prazo, afetar todo o ecossistema e a biodiversidade da região", detalhou a publicação da UFMG.


Fonte: O GLOBO