Autoridade monetária autônoma pode ajudar o governo

Falta ao PT e ao presidente Lula o entendimento de como o Banco Central autônomo pode ajudar o governo. Ele ajuda a combater a inflação e isso é fundamental para o governo. Inflação alta é aquilo que realmente enfraquece qualquer administração e há várias provas disso nos últimos 30 anos do Real.

Funciona assim: o mandato do Banco Central é levar a inflação para a meta decidida pelo governo. Sem interferência política, há mais confiança de que a meta será perseguida, e isso é parte fundamental do controle da inflação.

A alta do dólar esta semana pode ser definida como uma crise desnecessária criada, principalmente, pelo presidente Lula. O câmbio já vinha pressionado, pelo cenário externo e por dúvidas sobre a política fiscal, mas a tensão escalou, após o ataque de Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, citando a sua participação em um jantar promovido pelo governador de São Paulo em homenagem a ele.

Como presidente do Banco Central, Campos Neto não deveria ter participado desse evento, afinal ele é o guardião da autonomia da instituição. Seu primeiro presidente, vivendo o principal teste da autonomia. Lula tem razão ao apontar o erro, mas errou muito no tom. Ao falar ontem contra a autonomia provocou nova alta do dólar. E quando o dólar sobe impacta os preços. Quando a inflação sobe a primeira vítima é a popularidade do governo.

A decisão do Copom de, por unanimidade, manter a taxa de juros em 10,5% acalmou o mercado e a cotação da moeda americana chegou a cair nesta quinta-feira, a mínima foi de R$ 5,38. No entanto, a nova entrevista de Lula criticando de novo a autonomia fez voltar a cena um fantasma que vinha sendo afastado. O resultado foi a cotação mais alta do dólar desde 22 de julho de 2022. O fechamento do mercado foi em R$ 5,46.

Mesmo se o governo propuser o fim da autonomia, isso dificilmente passaria no Congresso.

Ampliando a tensão, pouco antes de o Copom anunciar sua decisão sobre os juros, na quarta-feira, a bancada do PT na Câmara entrou com ação judicial pedindo que Campos Neto seja proibido de “ostentar movimentação política e realizar pronunciamentos de natureza político-partidárias” e “de manifestar qualquer apoio à candidatura ou pretensão de ocupação de cargo político”. O efeito prático disso é desconhecido. Lideranças petistas já tinham pedido a antecipação do fim do mandato de Campos Neto à frente da autoridade monetária.

O fato é que, instalada a crise, é difícil prever como ficará o dólar daqui pra frente. E chega-se ao último dia da semana em que o país viveu uma crise artificial e inútil.


Fonte: O GLOBO