Companhia fará testes por 1 ano sob supervisão de programa de inovação da prefeitura
Febre do pré-pandemia — antes que logo sucumbissem a acidentes em série (inclusive fatais), modelos de negócio frágeis e à desordem urbana que provocavam —, as patinetes elétricas compartilhadas estão de volta às ruas do Rio.
Nesta sexta-feira, o app de origem russa Whoosh começa a operar com 1,2 mil patinetes em três bairros da Zona Sul (Ipanema, Leblon e Lagoa). O plano é expandir a operação para o restante da região e para o Centro ao longo das próximas semanas, eventualmente chegando ao Maracanã. Com a expansão, a Whoosh quer acrescentar pelo menos mais 1,4 mil veículos à frota em três meses.
Será a terceira cidade da Whoosh no Brasil, depois de ter entrado em Florianópolis e Porto Alegre no fim do ano passado. Listada na Bolsa de Moscou desde 2022, a companhia diz estar presente em 60 cidades pelo mundo, incluindo Lima, Santiago e capitais europeias. (O app estava em Lisboa, mas decidiu sair do mercado português por excesso de operadores no segmento, segundo a companhia).
Estações ‘virtuais’
— A gente é da segunda geração desse modelo e se beneficiou do aprendizado com os erros do segmento no passado. Não estamos oferecendo um brinquedo, mas uma solução de mobilidade. Somos a patinete que veio para dar certo — alega Francisco Forbes, CEO da Whoosh Brasil.
Os erros a que o executivo se refere vêm da curta experiência de duas startups que, depois de encherem o Rio de patinetes, fracassaram. A americana Lime jogou a toalha no começo de 2020, após apenas seis meses operando no Brasil. Pouco depois, já sob a pandemia, a Grow — fusão entre a brasileira Yellow e a mexicana Grin — pediu recuperação judicial. Em 2023, o processo foi convertido em falência.
Francisco Forbes elenca uma série de atributos que diferenciariam a Whoosh das outras. Enquanto os equipamentos de Lime e Grow podiam ser largados em qualquer lugar pelo usuário — não raro gerando verdadeiras montanhas que atravancavam calçadas —, a Whoosh criou pontos virtuais de estacionamento. Inicialmente, serão 200 deles, em praças e esquinas, e funcionarão de modo semelhante às estações das bicicletas “laranjinhas”, mas sem estrutura física.
— Para encerrar a corrida, a patinete precisará estar dentro do ponto virtual, senão o usuário continuará sendo cobrado — explica Forbes, acrescentando que o plano é chegar a 550 pontos de estacionamento até setembro.
Supervisão da prefeitura
A outra razão seria a qualidade da patinete. A Whoosh diz ter trazido para o país equipamentos de nova geração da marca Segway, que pesam 40 quilos e seriam muito mais resistentes que as patinetes que operavam na cidade. A autonomia da bateria também é de 55 quilômetros, contra 15 quilômetros das versões mais simples, afirma Forbes.
— Não haverá aquele monte de patinete quebrada, que era um problema comum. Além disso, esse equipamento permite que façamos a troca da bateria sem precisar retirar a patinete da rua. Isso aumenta a disponibilidade do serviço — acrescenta o CEO, que foi um dos fundadores da Infracommerce (empresa de e-commerce listada na B3) e trabalhou na HyperloopTT, firma americana que persegue o conceito de trem-bala a vácuo popularizado por Elon Musk.
Outro trunfo da Whoosh para evitar erros do passado é a proximidade com as autoridades públicas. A companhia faz parte do Sandbox.Rio, programa da prefeitura que permite que companhias testem modelos e serviços inovadores na cidade sob a supervisão municipal. A Whoosh foi selecionada no segundo ciclo do programa para testar o serviço por um ano, mas a prefeitura tem a prerrogativa de suspender o experimento a qualquer momento. A fiscalização será feita pela Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), pela Guarda Municipal e pela CET-Rio.
— O Sandbox.Rio é um programa para testar serviços inovadores de maneira segura e com supervisão da prefeitura. Antigamente, as empresas vinham e faziam seus testes de maneira desordenada, o que não era bom nem para a própria companhia, nem para a população do Rio, que muitas vezes sofria com a desordem gerada por aquelas inovações — observa Chicão Bulhões, secretário de Desenvolvimento Urbano do Rio.
Preço
Em nota à coluna, a prefeitura disse que, “no período de testes, as patinetes poderão circular somente nas seguintes situações: ciclovias, ciclofaixas, parques urbanos, praças públicas e vias fechadas ao lazer.”
“Em áreas com grande circulação de pedestres e de interesse cultural, onde há controle de velocidade, as patinetes são capazes de identificar geograficamente essas zonas e reduzir a velocidade automaticamente”, acrescenta.
A Whoosh vai cobrar taxa de desbloqueio de R$ 2 — equivalente à “bandeirada” do táxi —, acrescida de R$ 0,80 por minuto de uso. A operação é feita pelo app da Whoosh, com PIX ou cartão de crédito. O CEO admite que o preço não é acessível para todo mundo, mas ele aposta na competitividade com o modal motorizado.
— É mais caro que o transporte público, mas certamente é mais barato que usar o próprio carro ou pegar o Uber. O turista é bem-vindo, mas a gente quer que o cara pegue a patinete todo dia para trabalhar. Por isso os primeiros locais de estacionamento estarão próximos a estações de metrô e pontos de ônibus — diz Forbes.
Fonte: O GLOBO
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