Mais de dois terços da área afetada pelo fogo foram de vegetação nativa, com predominância no Cerrado e na Amazônia

Um quarto dos hectares brasileiros pegou fogo ao menos uma vez nas últimas quatro décadas. É o que aponta um levantamento do MapBiomas divulgado nesta terça-feira. Entre 1985 e 2023, 199,1 milhões de hectares foram queimados no país, o equivalente a 23% do território nacional. A análise destaca que mais de dois terços da área afetada pelo fogo (68%) foi de vegetação nativa, enquanto os outros 32% possuem ocupação humana, principalmente para pastagem e agricultura.

O MapBiomas ressalta que, nas quatro décadas, quase metade da área queimada (46%) está concentrada no Mato Grosso, Pará e Maranhão, e 60% do território queimado corresponde a imóveis privados. Os municípios que mais queimaram no período foram Corumbá (MS), no Pantanal, seguido por São Félix do Xingu (PA), na Amazônia, e Formosa do Rio Preto (BA), no Cerado.

A média anual é de 18,3 milhões de hectares afetados pelo fogo, 2,2% do território nacional. A maioria das queimadas se dá na estação seca, entre julho e outubro, concentrando 79% dos casos. Os dados também apontam que cerca de 65% da área afetada pelo fogo no país foi queimada mais de uma vez estes 39 anos.

Esta recorrência é mais comum no Cerrado que, junto com a Amazônia, concentra cerca de 86% da área queimada pelo menos uma vez no Brasil no período. Foram 88,5 milhões de hectares queimados no Cerrado, 44% do total nacional, enquanto 82,7 milhões de hectares do território amazônico pegou fogo nos últimos 40 anos (42%).

Os pesquisadores destacam, entretanto, que embora os números absolutos de áreas queimadas sejam semelhantes, os biomas têm tamanhos diferentes. No caso do Cerrado, a área atingida pelo fogo equivale a 44% do seu território. Já na Amazônia, o percentual foi de 19,6%.

O MapBiomas ressalta a existência de diferença na característica do fogo em cada um dos biomas. Na Amazônia, as queimadas são causadas, principalmente, pelo desmatamento e práticas agrícolas, o que provoca perda de biodiversidade. O Cerrado, por sua vez, é mais adaptado ao fogo, já que depende de queimadas naturais e controladas para manter o ecossistema. Entretanto, mudanças no regime natural do bioma relacionadas à expansão agropecuária e uso indevido do fogo preocupam ambientalistas.

— O Cerrado tem sofrido com altas taxas de desmatamento, o que resulta no aumento de queimadas e no risco de se tornarem incêndios descontrolados. Desta forma, ocorre uma alteração no regime natural do fogo, trazendo impacto negativo no equilíbrio ecológico— explica Vera Arruda, coordenadora técnica do MapBiomas Fogo e pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Outros biomas afetados

O Pantanal foi o bioma que, proporcionalmente, teve território mais queimado nos últimos 40 anos. Foram 9 milhões de hectares, 59,2% do seu total. No ano passado, foram mais de 600 mil hectares queimados. O bioma, também adaptado ao fogo, enfrenta queimadas intensas devido às secas prolongadas, em que qualquer foco pode trazer impactos significativos para a biodiversidade.

Na Caatinga, o fogo atingiu quase 11 milhões de hectares no período, o equivalente a 12,7% do bioma. Por lá, as queimadas são frequentemente utilizadas para manejo do solo agrícola e potencializadas pelas secas prolongadas.

A Mata Atlântica, por sua vez, teve 7,5 milhões de hectares afetados pelo fogo, 6,8% de sua área total. O bioma, que é altamente sensível ao fogo nas áreas naturais remanescentes, vem aumentando a vulnerabilidade a incêndios, segundo o MapBiomas.

Já no Pampa, foram 518 mil hectares, o equivalente a 2,7% de seu território. As queimadas no bioma com vegetação campestre são pequenas e pouco frequentes, uma vez que o uso do solo para pasto resulta em baixo acúmulo de biomassa inflamável.


Fonte: O GLOBO