Divulgação da Ata do Copom e do relatório da inflação devem indicar o que vem pela frente

Tem momentos que a Ata do Copom e o relatório da inflação não geram maiores expectativas, não têm maiores emoções. Dessa vez terão. Após todo o "barulho" da semana passada em torno da política monetária, com os juros parando de cair, a gente precisa saber o que o Banco Central está pensando para frente e o que leva a autarquia a ficar mais cautelosa com o futuro e manter a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 10,5%. Essas duas respostas vão ser dadas nesses dois documentos que serão divulgados terça e quinta-feira, respectivamente.

O primeiro comunicado divulgado pelo Banco Central, logo após a reunião do Copom, na quarta-feira, indicou que o comitê vai passar um tempo sem reduzir a taxa de juros. Quanto tempo? Há no mercado quem preveja que o cenário é de juros parados em 10,5% até o fim do ano que vem.

Isso significaria uma taxa de juros muito alta, durante muito tempo. Isso porque, com a inflação entre 3,5% e 4%, mais para 4% agora, estamos falando de um juros real de quase 7%, o que é bastante alto.

Em entrevista ao "Valor", Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional dos governos Temer e Bolsonaro, avalia que o déficit público será mantido neste e no próximo ano. E isso é ruim, diz, mas não é um cenário de crise fiscal, isso é diferente.

O mercado, no entanto, está se comportando como se o país estivesse à beira de uma crise fiscal. E não há uma crise fiscal no cenário, mas é fato que o que o governo como um todo não tem dado respaldo à equipe econômica, aos ministros Fernando Haddad e Simone Tebet. É como se fosse deles o problema de equilibrar as contas.

Por outro lado, Mansueto atribui metade do que está acontecendo agora a expectativa em relação aos juros dos Estados Unidos. O economista José Roberto Mendonça de Barros, acredita que haverá corte na taxa americana este ano e isso influencia os juros no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Quando os juros americanos permanecem altos, eles absorvem a poupança global, isto é, atraem recursos de outros países para os seus títulos considerados os mais seguros do mundo. Neste cenário fica mais difícil reduzir juros, sob o risco de perda de capital estrangeiro no mercado. Se a taxa americana cair, no entanto, abre a possibilidade de cortes nos juros por aqui, diz Mendonça de Barros.

Então, todos estarão atento aos sinais que a Ata do Copom dará para o futuro. Por quanto tempo, em que condições os juros ficarão mantidos nesse patamar de 10,5%? Claro que esses sinais não são muito claros, é preciso ler nas entrelinhas, se debruçar sobre o texto.

O relatório de inflação é um documento que sai de três em três meses e dá um panorama de como o Banco Central do Brasil está avaliando a economia brasileira. E neste momento, todos os olhos estão voltados ao Banco Central que está numa fase delicada de transição. O mandato do atual presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, está terminando e, nesse segundo semestre, o governo deve apontar seu sucessor que passará pelos trâmites de sabatina no Congresso.

Não bastasse todos os melindres em relação a autarquia monetária, ainda é preciso avaliar como a tragédia do Rio Grande do Sul afetará a economia brasileira, em relação ao crescimento do PIB e os reflexos na inflação, o que deverá ficar mais claro agora.

Mansueto e Mendonça de Barros acreditam que o Rio Grande do Sul terá um impacto negativo no crescimento da economia num primeiro momento,para em seguida ter um efeito de recuperação no PIB. Estou falando do número, pois na vida real, no dia a dia das pessoas e das empresas, a recuperação do Rio Grande do Sul vai demorar mais. Mas os estímulos dados para a recuperação do estado vão ter efeito mais imediato no número do PIB.


Fonte: O GLOBO