Índice de Tóquio despencou 12,4%, maior tombo desde 1987. Futuros da Nasdaq em Nova York, pré abertura do mercado, chegaram a cair 6,5%. Analistas veem chances maiores de recessão nos EUA

O dólar comercial abriu em forte alta na manhã desta segunda-feira e chegou a ser cotado a R$ 5,8641, em alta de 2,4% pouco depois das 9h, quando tiveram início as negociações. Por volta de 9h20, a moeda já tinha cedido um pouco e estava cotada a R$ 5,795, em alta de 1,5%.

Se fechar acima de R$ 5,80, será a primeira vez que o dólar terminará o dia neste patamar desde maio de 2020, no auge da crise econômica provocada pela pandemia do coronavírus.

Por aqui, a Bolsa também abriu no vermelho. Por volta de 10h10, o Ibovespa, principal índice da bolsa recuava 2,05%, aos 122.280 pontos. O temor de uma desaceleração na economia leva à queda de commodities, o que arrasta para baixo as principais empresas do índice: Vale e Petrobras.

Logo depois da abertura, os papéis da mineradora caíam 2,86%, a R$ 55,99. Expectativas de uma economia chinesa também desaquecendo e sem reação à estímulos para fomentar a economia refletiam nos papéis da mineradora, que possui o país como um dos maiores clientes.

Já o barril do petróleo tipo brent também caía, em retração de 0,83%, a pouco mais de US$ 76. Por aqui, os papéis da Petrobras apontavam para baixo: os preferenciais, com direito a voto, recuavam 2,49 %, a R$ 34,85, enquanto os ordinários, sem direito a voto, caíam 2,02%, a R$ 37,84.

O clima de temor com a recessão global também se refletia nos principais índices acionários da Europa e Estados Unidos. Por volta das 11h20, as Bolsas de Nova York apontavam para baixo: o índice Dow Jones retraía 2,4%, aos 38.785 pontos. O S&P 500 recuava 2,45%, aos 5.215 pontos. E o Nasdaq, que concentra papéis de tecnologia, também caía 3,7%, aos 16.155 pontos.

Na Europa, a queda também era generalizada. Por volta de 11h30, o índice FTSE 100, em Londres, caía 2,24%; o CAC 40, em Paris, reduzia 1,42%; em Frankfurt, na Alemanha, o DAX perdia 1,85%. O EuroStoxx, índice de bolsa composto por 50 ações de toda zona do Euro, caía 1,5%.

Por que economia americana pode entrar em recessão?

O dia é de nervosismo nos mercados globais, diante de um temor de que a economia americana possa entrar em recessão. As Bolsas de Ásia tiveram fortes perdas e, em Tóquio, o principal índice acionário local despencou 12,4%, a maior queda desde 1987.

Na Coreia do Sul, a Bolsa de Seul precisou acionar o circuit breaker , quando as negociações são interrompidas em meio a fortes oscilações, mas ainda assim fechou em queda de 8,8%.

O pessimismo se alastrou pelas Bolsas europeias, que operavam em queda de mais de 2%. E também nas negociações pré-mercado das Bolsas americanas – o futuro do índice Nasdaq chegou a cair 6,5%.

Maior patamar de desemprego desde 2021

O gatilho para a virada de humor dos investidores foi a divulgação, na sexta-feira passada, do relatório sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos. A pesquisa foi conhecida após o fechamento das Bolsas na Ásia e mostrou uma taxa de desemprego em julho em 4,3%, o maior patamar desde outubro de 2021.

Os analistas começaram a ver, então, chances maiores de uma recessão nos EUA e a avaliar que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) já deveria ter começado um ciclo de corte nas suas taxas de juros básicas — na semana passada, o Fed manteve a taxa inalterada entre 5,25% e 5,5% ao ano e sinalizou que vai cortá-la na sua próxima reunião regular, marcada para setembro.

Um relatório do Goldman Sachs aumentou de 15% para 25% as chances de os EUA entrarem em recessão. Analistas do JPMorgan são ainda mais pessimistas, em veem um risco de 50% da economia americana se tornar recessiva.

O que influencia o nervosismo dos mercados?

Além dos sinais mais claros de uma desaceleração - ou uma possível recessão - na economia americana, a escalada de tensões no Oriente Médio, com ataques de Israel no Líbano e no Irã, também influencia no nervosismo dos mercados.

Decisões do Fed

Com a virada repentina de humor nos mercados, alguns analistas já vislumbram a possibilidade de o Fed realizar uma reunião de emergência e cortar a taxa de juros antes do próximo encontro previsto de sua diretoria, em 18 de setembro.

No auge do nervosismo dos mercados nessa manhã, as negociações com títulos do Tesouro americano estavam em patamares que apontavam para uma probabilidade de 60% de um corte emergencial nos juros.

— Claramente, esses números de empregos deixaram todos muito assustados — avalia Neil Birrell, diretor de investimentos da Premier Miton Investors. — É possível até que o Fed avalie ser preciso tomar uma atitude para estabilizar os mercados, ou seja, realizar um corte de juros fora do ciclo previsto. Mas fazer isso apenas uma semana depois de sua reunião regular, apenas devido a um indicador (a taxa de desemprego), seria atípico — complementa.


Fonte: O GLOBO