Após atentado de 7 de outubro, membros de alto escalão do grupo terrorista passaram a ser assassinados em ataques reivindicados pelo Exército israelense
Desde que a guerra entre Israel e o Hamas teve início, em outubro passado, o Exército israelense prometeu matar a liderança do grupo terrorista, apontada como responsável pelo ataque sem precedentes contra o Estado judeu, quando mais de 1,2 mil pessoas foram mortas e cerca de 250 foram sequestradas. De lá para cá, alguns nomes do alto escalão do Hamas foram assassinados em ataques reivindicados por Israel – incluindo o chefe da ala política do grupo, Ismael Haniyeh, atingido por um míssil nesta quarta-feira.
Principal líder do Hamas no exílio, Haniyeh, de 62 anos, vivia no Cairo e estava de visita no Irã, um dos aliados mais importantes do grupo, para acompanhar a cerimônia de posse do novo presidente iraniano. Chefe da ala política, o palestino era visto como relativamente moderado – e, embora rejeitasse reconhecer a existência do Estado de Israel, ele não se opunha a uma solução de dois estados. Sem ocupar um papel direto no ramo militar do Hamas, conhecido como Brigadas al-Qassam, não se sabe o quanto ele estava a par do plano de ataque de 7 de outubro.
Mesmo antes da guerra atual, muitos membros de alto escalão do grupo buscaram manter um perfil mais reservado, evitando tentativas de assassinato por parte do Exército israelense. Alguns, inclusive, passaram a viver no exílio, sendo o Catar o destino principal, mas também o Irã, Líbano e Turquia. Segundo o jornal Middle East Eye, é comum que os que ainda residem em Gaza sejam considerados mais envolvidos em operações militares contra Israel, enquanto a liderança política é mantida do exterior. Entenda, no infográfico abaixo, a estrutura do grupo:
Liderança do grupo terrorista Hamas é dividida entre política e militar; desde o início da guerra contra Israel, o Estado judeu prometeu aniquilar a organização — Foto: Editoria de Arte
Após a morte de Haniyeh, uma fonte próxima ao grupo terrorista disse à agência Reuters que “assassinatos não afetam o Hamas”, já que “os combatentes têm suas próprias ordens”. A mesma fonte enfatizou que o grupo “continuará a lutar até que [Yahya] Sinwar e a liderança do Hamas digam que há um acordo”. Líder do grupo desde 2017, Sinwar é apontado como o maior responsável pelo ataque contra Israel no ano passado – e, segundo autoridades israelenses, só não foi morto ainda porque estaria cercado de um grande número de reféns no enclave.
Conheça os membros mais proeminentes do grupo – e que tiveram participação na guerra mais mortal da Faixa de Gaza:
Khaled Meshaal
Nascido na Cisjordânia, a trajetória de Khaled Meshaal teve início no Kuwait, para onde se transferiu ao fugir da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Na época um adolescente, ele se juntou à Irmandade Muçulmana e conheceu integrantes oriundos da Faixa de Gaza. Vinte anos mais tarde, quando o Hamas foi criado, ele passou a fazer parte do grupo. Com a Guerra do Golfo, em 1991, Meshaal deixou o Kuwait rumo à Jordânia.
Ele passou a liderar o gabinete político da organização terrorista em 1996. Dois anos depois, agentes israelenses injetaram nele um veneno de ação lenta na Jordânia, e ele foi deixado em coma antes de ser salvo por um antídoto fornecido também por Israel como parte de um acordo diplomático. Após o episódio, ele foi apelidado de “mártir vivo” por seus apoiadores. O palestino só deixou o reino jordaniano em 1999, após ter sido preso e depois banido do território sob a alegação de usar o país para exercer atividades ilegais com o objetivo de financiar o Hamas.
Sob sua liderança, o Hamas conquistou a maioria dos assentos nas eleições legislativas de 2006. Agora, ele é cotado para assumir o lugar de Haniyeh, embora analistas avaliem que a transição “não será fácil”. À Associated Press, a especialista em Palestina Hani al-Masri disse que o novo líder do grupo “terá que decidir se continua com a opção militar e se torna um grupo essencialmente guerrilheiro ou se escolhe compromissos políticos” – algo que, segundo ela, é “improvável” no momento.
Meshaal, que já foi visto como membro linha-dura e como moderado, prometeu em 2012 que nunca iria reconhecer Israel como Estado. Na ocasião, ele afirmou que o grupo islâmico “jamais abandonaria” sua reivindicação de todo o território palestino” e que não haveria concessão “de uma polegada de terra”. Ele declarou, ainda, que não descansaria até libertar os prisioneiros palestinos. Atualmente, Meshaal é considerado uma das principais vozes do grupo nas tentativas de negociar um acordo de cessar-fogo no enclave, que já se aproxima de seu décimo mês.
Yahya Sinwar
Sinwar, de 61 anos, nasceu no campo de refugiados de Khan Younis e entrou para a militância armada quando Israel ainda ocupava a Faixa de Gaza. Sua primeira prisão foi em 1982, por “atividades islâmicas”, sendo novamente detido em 1985. Na época, se aproximou do fundador do Hamas, Ahmed Yassin, e assumiu o serviço de segurança interna do grupo. Seus alvos, além de pessoas acusadas de colaborarem com Israel, eram as “atividades imorais”, como lojas com material pornográfico. Em 1989, foi condenado à prisão perpétua por quatro homicídios.
Na prisão, tornou-se fluente em hebraico e, após ter feito uma cirurgia para retirar um tumor no cérebro, chegou a receber uma proposta para colaborar com Israel. Ele recursou. Em 2011, quando houve aquela que, até agora, era a mais famosa troca de reféns por prisioneiros da História de Israel – a de mil palestinos pelo soldado Gilad Shalit – Sinwar ganhou a liberdade e voltou para Gaza como um nome de destaque do Hamas.
Seis anos depois, em 2017, quando já integrava uma lista de pessoas consideradas terroristas pelos EUA, foi escolhido chefe do conselho político do Hamas em Gaza, sucedendo a Ismail Haniyeh, que vivia no Catar. Apesar do passado “linha-dura”, que incluiu a ordenação de execuções de adversários mesmo quando estava na cadeia, os primeiros sinais enviados a Israel eram um pouco diferentes. Em 2018, ele afirmou que seu objetivo era transformar o enclave numa sociedade funcional e pacífica – discurso que, para analistas, convenceu muita gente.
— O Hamas e Yahya Sinwar enganaram Israel, e fizeram parecer que a guerra não era uma opção para o grupo islâmico — disse à Bloomberg o jornalista Akram Atallah, colunista do jornal árabe al-Ayyam. — Foi uma campanha sofisticada de desinformação. Fizeram Israel acreditar que estavam falando sobre paz, sobre trabalhadores e sobre uma vida econômica para os moradores de Gaza.
Mohammed Deif
Chefe do Estado-maior do Hamas, Mohammed Deif foi declarado morto pelo Exército de Israel nesta quinta-feira. Enquanto líder da ala militar do grupo, ele era apontado por autoridades israelenses como um dos arquitetos do atentado de 7 de outubro, e acusado de planejar atos terroristas contra o Estado judeu – incluindo uma série de ataques de homens-bomba no fim dos anos 1990. Ainda de acordo com o Middle East Eye, Deif também ajudou a planejar a rede de túneis subterrâneos que se estendem por Gaza até Israel.
Nascido em Khan Younis nos anos 1960, ele se juntou ao Hamas durante a Primeira Intifada e foi preso pelas forças de segurança israelenses em 1989. Ele passou mais de um ano detido, mas, ao retornar para o enclave, ascendeu nas fileiras do grupo. Apelidado de “fantasma” por conseguir se esconder e escapar de tentativas de ataque de Israel desde 1995, ele desenvolveu sua reputação por transformar as Brigadas al-Qassam numa força de combate organizada, com dezenas de milhares em suas fileiras.
O sucesso do palestino em escapar de esforços israelenses para matá-lo (acredita-se que ele tenha perdido um olho e ficado gravemente ferido) também aumentou seu status na região. Ele teria sobrevivido a mais de oito tentativas de assassinato, segundo a Inteligência de Israel.
(Com New York Times)
Fonte: O GLOBO
Desde que a guerra entre Israel e o Hamas teve início, em outubro passado, o Exército israelense prometeu matar a liderança do grupo terrorista, apontada como responsável pelo ataque sem precedentes contra o Estado judeu, quando mais de 1,2 mil pessoas foram mortas e cerca de 250 foram sequestradas. De lá para cá, alguns nomes do alto escalão do Hamas foram assassinados em ataques reivindicados por Israel – incluindo o chefe da ala política do grupo, Ismael Haniyeh, atingido por um míssil nesta quarta-feira.
Principal líder do Hamas no exílio, Haniyeh, de 62 anos, vivia no Cairo e estava de visita no Irã, um dos aliados mais importantes do grupo, para acompanhar a cerimônia de posse do novo presidente iraniano. Chefe da ala política, o palestino era visto como relativamente moderado – e, embora rejeitasse reconhecer a existência do Estado de Israel, ele não se opunha a uma solução de dois estados. Sem ocupar um papel direto no ramo militar do Hamas, conhecido como Brigadas al-Qassam, não se sabe o quanto ele estava a par do plano de ataque de 7 de outubro.
Mesmo antes da guerra atual, muitos membros de alto escalão do grupo buscaram manter um perfil mais reservado, evitando tentativas de assassinato por parte do Exército israelense. Alguns, inclusive, passaram a viver no exílio, sendo o Catar o destino principal, mas também o Irã, Líbano e Turquia. Segundo o jornal Middle East Eye, é comum que os que ainda residem em Gaza sejam considerados mais envolvidos em operações militares contra Israel, enquanto a liderança política é mantida do exterior. Entenda, no infográfico abaixo, a estrutura do grupo:
Liderança do grupo terrorista Hamas é dividida entre política e militar; desde o início da guerra contra Israel, o Estado judeu prometeu aniquilar a organização — Foto: Editoria de Arte
Após a morte de Haniyeh, uma fonte próxima ao grupo terrorista disse à agência Reuters que “assassinatos não afetam o Hamas”, já que “os combatentes têm suas próprias ordens”. A mesma fonte enfatizou que o grupo “continuará a lutar até que [Yahya] Sinwar e a liderança do Hamas digam que há um acordo”. Líder do grupo desde 2017, Sinwar é apontado como o maior responsável pelo ataque contra Israel no ano passado – e, segundo autoridades israelenses, só não foi morto ainda porque estaria cercado de um grande número de reféns no enclave.
Conheça os membros mais proeminentes do grupo – e que tiveram participação na guerra mais mortal da Faixa de Gaza:
Khaled Meshaal
Nascido na Cisjordânia, a trajetória de Khaled Meshaal teve início no Kuwait, para onde se transferiu ao fugir da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Na época um adolescente, ele se juntou à Irmandade Muçulmana e conheceu integrantes oriundos da Faixa de Gaza. Vinte anos mais tarde, quando o Hamas foi criado, ele passou a fazer parte do grupo. Com a Guerra do Golfo, em 1991, Meshaal deixou o Kuwait rumo à Jordânia.
Ele passou a liderar o gabinete político da organização terrorista em 1996. Dois anos depois, agentes israelenses injetaram nele um veneno de ação lenta na Jordânia, e ele foi deixado em coma antes de ser salvo por um antídoto fornecido também por Israel como parte de um acordo diplomático. Após o episódio, ele foi apelidado de “mártir vivo” por seus apoiadores. O palestino só deixou o reino jordaniano em 1999, após ter sido preso e depois banido do território sob a alegação de usar o país para exercer atividades ilegais com o objetivo de financiar o Hamas.
Sob sua liderança, o Hamas conquistou a maioria dos assentos nas eleições legislativas de 2006. Agora, ele é cotado para assumir o lugar de Haniyeh, embora analistas avaliem que a transição “não será fácil”. À Associated Press, a especialista em Palestina Hani al-Masri disse que o novo líder do grupo “terá que decidir se continua com a opção militar e se torna um grupo essencialmente guerrilheiro ou se escolhe compromissos políticos” – algo que, segundo ela, é “improvável” no momento.
Meshaal, que já foi visto como membro linha-dura e como moderado, prometeu em 2012 que nunca iria reconhecer Israel como Estado. Na ocasião, ele afirmou que o grupo islâmico “jamais abandonaria” sua reivindicação de todo o território palestino” e que não haveria concessão “de uma polegada de terra”. Ele declarou, ainda, que não descansaria até libertar os prisioneiros palestinos. Atualmente, Meshaal é considerado uma das principais vozes do grupo nas tentativas de negociar um acordo de cessar-fogo no enclave, que já se aproxima de seu décimo mês.
Yahya Sinwar
Sinwar, de 61 anos, nasceu no campo de refugiados de Khan Younis e entrou para a militância armada quando Israel ainda ocupava a Faixa de Gaza. Sua primeira prisão foi em 1982, por “atividades islâmicas”, sendo novamente detido em 1985. Na época, se aproximou do fundador do Hamas, Ahmed Yassin, e assumiu o serviço de segurança interna do grupo. Seus alvos, além de pessoas acusadas de colaborarem com Israel, eram as “atividades imorais”, como lojas com material pornográfico. Em 1989, foi condenado à prisão perpétua por quatro homicídios.
Na prisão, tornou-se fluente em hebraico e, após ter feito uma cirurgia para retirar um tumor no cérebro, chegou a receber uma proposta para colaborar com Israel. Ele recursou. Em 2011, quando houve aquela que, até agora, era a mais famosa troca de reféns por prisioneiros da História de Israel – a de mil palestinos pelo soldado Gilad Shalit – Sinwar ganhou a liberdade e voltou para Gaza como um nome de destaque do Hamas.
Seis anos depois, em 2017, quando já integrava uma lista de pessoas consideradas terroristas pelos EUA, foi escolhido chefe do conselho político do Hamas em Gaza, sucedendo a Ismail Haniyeh, que vivia no Catar. Apesar do passado “linha-dura”, que incluiu a ordenação de execuções de adversários mesmo quando estava na cadeia, os primeiros sinais enviados a Israel eram um pouco diferentes. Em 2018, ele afirmou que seu objetivo era transformar o enclave numa sociedade funcional e pacífica – discurso que, para analistas, convenceu muita gente.
— O Hamas e Yahya Sinwar enganaram Israel, e fizeram parecer que a guerra não era uma opção para o grupo islâmico — disse à Bloomberg o jornalista Akram Atallah, colunista do jornal árabe al-Ayyam. — Foi uma campanha sofisticada de desinformação. Fizeram Israel acreditar que estavam falando sobre paz, sobre trabalhadores e sobre uma vida econômica para os moradores de Gaza.
Mohammed Deif
Chefe do Estado-maior do Hamas, Mohammed Deif foi declarado morto pelo Exército de Israel nesta quinta-feira. Enquanto líder da ala militar do grupo, ele era apontado por autoridades israelenses como um dos arquitetos do atentado de 7 de outubro, e acusado de planejar atos terroristas contra o Estado judeu – incluindo uma série de ataques de homens-bomba no fim dos anos 1990. Ainda de acordo com o Middle East Eye, Deif também ajudou a planejar a rede de túneis subterrâneos que se estendem por Gaza até Israel.
Nascido em Khan Younis nos anos 1960, ele se juntou ao Hamas durante a Primeira Intifada e foi preso pelas forças de segurança israelenses em 1989. Ele passou mais de um ano detido, mas, ao retornar para o enclave, ascendeu nas fileiras do grupo. Apelidado de “fantasma” por conseguir se esconder e escapar de tentativas de ataque de Israel desde 1995, ele desenvolveu sua reputação por transformar as Brigadas al-Qassam numa força de combate organizada, com dezenas de milhares em suas fileiras.
O sucesso do palestino em escapar de esforços israelenses para matá-lo (acredita-se que ele tenha perdido um olho e ficado gravemente ferido) também aumentou seu status na região. Ele teria sobrevivido a mais de oito tentativas de assassinato, segundo a Inteligência de Israel.
(Com New York Times)
Fonte: O GLOBO
0 Comentários