Seis estados declararam emergência, e especialistas já indicaram que o fenômeno quebrou recordes estabelecidos pela última vez com o Idalia, em agosto de 2023

Ao menos 41 pessoas morreram em quatro estados nos Estados Unidos com a passagem do furacão Helene, que deixou mais de 4,6 milhões de residências sem energia elétrica e provocou o disparo de alertas de inundações repentinas. 

O fenômeno chegou a atingir a categoria 4 (numa escala até 5) ao passar pela Flórida na noite de quinta-feira, e seguiu rumo ao interior da Geórgia como uma tempestade tropical nesta sexta, segundo comunicado do Centro Nacional de Furacões (NHC, na sigla em inglês), e posteriormente rebaixada para depressão tropical. Os governadores da Flórida, Geórgia, Alabama, Carolinas do Norte e do Sul e Virgínia declararam estado de emergência.

Segundo dados atuais reportados pelo New York Times, o estado com mais mortes até o momento é a Carolina do Sul, com 17, seguido pela Geórgia, com 15 vítimas fatais.

A Flórida, primeiro estado a ser atingido, contabilizou, até o momento, sete mortos. Cinco delas morreram, pelo menos duas por afogamento, em comunidades costeiras no Condado de Pinellas, disse Bob Gualtieri, o xerife, em uma entrevista coletiva nesta sexta-feira. Uma pessoa morreu em uma rodovia em Tampa por causa da queda de uma placa, de acordo com o governador Ron DeSantis, e outra morreu no Condado de Dixie, cerca de duas horas a sudeste de Tallahassee, quando uma árvore caiu sobre uma casa.

E na Carolina do Norte, um acidente de carro em uma estrada com a pista molhada matou uma menina de 4 anos em Claremont, e a queda de uma árvore causou outra morte em Charlotte.

Autoridades e a imprensa americana afirmam que esses números ainda podem aumentar nas próximas horas.

'Parece bomba nuclear'

O presidente Joe Biden e as autoridades estaduais pediram na véspera que as pessoas seguissem os avisos oficiais de retirada antes da chegada do Helene, embora alguns tenham optado por ficar em suas casas para enfrentar a tempestade.

O furacão atingiu a costa da Flórida por volta das 23h10 no horário local (00h10 em Brasília), na região de Big Bend, uma área florestal escassamente povoada no noroeste do estado, segundo o NHC em Miami. A região mal havia se recuperado de duas outras fortes tempestades no último ano.

— Parece que uma bomba nuclear explodiu —disse ao New York Times Michael Bobbitt, que mora na pequena Cedar Key.

Os ventos chegaram a 225 km/h nas imediações da cidade de Perry, que fica a apenas 32 km a noroeste de onde o furacão Idalia, de categoria 3, atingiu a costa no ano passado. Ainda não se sabe a extensão da maré de tempestade (ressaca) e os danos causados na manhã desta sexta, em parte porque vários medidores pararam de funcionar, segundo Parks Camp, meteorologista do Serviço Nacional de Meteorologia da Flórida.

— Quando o olho do furacão chegou até nós, foi quando tudo começou a intensificar — disse Larry Bailey, de 32 anos, que se abrigou em sua pequena casa de madeira em Perry durante toda a noite com seus dois sobrinhos e sua irmã, à AFP. — Eu sou da Flórida, então estou meio acostumado com isso, mas houve um momento em que foi realmente assustador. É como se eu pensasse: minha casa vai ser levada ou não?

Os aeroportos de Tampa e Tallahassee foram fechados, e o governador Ron DeSantis afirmou que "provavelmente haverá mais perdas de vidas e de propriedades". Ele mobilizou a Guarda Nacional e milhares de profissionais para possíveis operações de busca e resgate, assim como restabelecimento de energia no estado.

O escritório do xerife do condado rural de Taylor pediu que os moradores escrevessem seus nomes, data de nascimento e informações importantes no braço ou na perna com caneta permanente, de modo que possam ser identificados. Mesmo com o enfraquecimento do Helene no estado, ventos fortes e chuvas intensas devem se estender até as montanhas do sul dos Apalaches, onde deslizamentos de terra são possíveis.

Na Geórgia, todos os 159 condados entraram em estado de emergência e ao menos 700 mil casas sem eletricidade, de acordo com o PowerOutage, site de monitoramento de energia. Mais cedo, o governador do estado, Brian Kemp, pediu aos moradores "que se preparem para novos impactos do Helene" e afirmou que esta já é a "pior tempestade" enfrentada no estado.

O Serviço Nacional de Meteorologia declarou que a região metropolitana de Atlanta, na Geórgia, corre o risco de "emergência de enchente repentina". Meteorologistas informaram que Atlanta tem passado pelo período de três dias mais chuvosos em 104 anos, e resgates devido às enchentes estão sendo relatados em toda a região, publicou o New York Times.

Uma declaração semelhante à de Kemp foi dada pelo governador da Carolina do Norte, Roy Cooper. O estado está enfrentando inundações repentinas, vários deslizamentos de terra e quedas de energia. Há pelo menos 290 estradas bloqueadas em todo o estado e mais de 800 mil clientes sem eletricidade.

— Todo o lado da montanha começou a deslizar — disse Alan Keffer, morador do estado, à CNN. — Estava do outro lado da rodovia interestadual, então pensei que conseguiríamos acelerar e sair dali, pisei no acelerador, mas [a montanha] deslizou mais rápido do que eu pensava. As pedras, a sujeira, tudo nos atingiu. Foi assustador.

Recordes quebrados

Especialistas já indicaram que o Helene quebrou recordes de maré de tempestade na Flórida, muitos dos quais tinham sido estabelecidos pela última vez com o Idalia, em agosto de 2023. A maré de tempestade — a elevação dos níveis de água causada pelos ventos fortes que empurram a água do oceano para a costa — é a principal causa de mortes por furacões, segundo o Centro Nacional de Furacões.

As marés de tempestade podem ocorrer rapidamente, às vezes sem tempo para que as pessoas ajam. Apenas cerca de 15 cm de água de enchente em movimento rápido podem derrubar um adulto, segundo o centro. São necessários 60 cm de água corrente para arrastar a maioria dos veículos, incluindo caminhonetes e SUVs. Além disso, edifícios que sobrevivem aos ventos de um furacão podem ser danificados pela maré. Na costa de Big Bend, na Flórida, era esperado que o Helene provocasse marés de até 6 metros. Os níveis de água devem começar a baixar nesta sexta.

O furacão Helene também inundou partes da Península de Yucatán, no México, na quarta-feira, enchendo ruas e derrubando árvores enquanto passava pela costa e atingia a cidade turística de Cancún. Ao passar por Cuba, ele deixou mais de 200 mil residências e empresas sem energia.

Helene é a oitava tempestade da temporada de furacões no Atlântico, que começou em 1º de junho. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica previu uma temporada acima da média devido às temperaturas recordes dos oceanos.

Com o tufão Yagi atingindo a Ásia, a tempestade Boris encharcando a Europa e inundações extremas no Sahel, setembro até agora tem sido um mês úmido em todo o mundo. Cientistas vinculam alguns eventos climáticos extremos diretamente ao aquecimento global.

Com AFP e New York Times.


Fonte: O GLOBO