Ministério da Saúde do Líbano confirmou ao menos 182 mortes durante bombardeios nesta segunda e determinou que hospitais no sul do país cancelem cirurgias eletivas para atender urgências

Ondas de fumaça são avistadas no local de um ataque aéreo israelense, nos arredores da vila de Habbouch, no Sul do Líbano — Foto: Rabih DAHER/AFP

O Exército de Israel alertou cidadãos civis do Líbano a "se afastarem" de posições do Hezbollah nesta segunda-feira, após lançar mais uma rodada de ataques aéreos contra posições do movimento xiita no país. 

Dezenas de jatos de guerra israelenses entraram no espaço aéreo libanês e fizeram novos bombardeios — cerca de 80, segundo fontes em Beirute — um dia após o Hezbollah detonar foguetes perto de Haifa, uma das maiores cidades do Estado judeu. Ao menos 182 pessoas morreram no ataque desta segunda, segundo o governo libanês, o que torna este o dia mais sangrento no país desde o início das hostilidades.

— Aconselhamos os civis das populações libanesas localizadas dentro e perto de edifícios e áreas usadas pelo Hezbollah para fins militares a partirem imediatamente. [As forças israelenses] realizarão bombardeios [mais] extensos e precisos contra alvos terroristas que se tornaram amplamente enraizados em todo o Líbano — afirmou o principal porta-voz militar israelense, o contra-almirante Daniel Hagari.

Parte do alerta israelense chegou aos civis libaneses quando os jatos israelenses já sobrevoavam os céus do país. Em uma declaração à agência de notícias britânica Reuters, o chefe da operadora de telecomunicações libanesa Ogero afirmou que Israel fez mais de 80 mil tentativas de ligação na segunda-feira, pedindo que as pessoas saíssem de determinadas áreas. Ao menos um ministro do governo do Líbano confirmou que mensagens de texto e de voz também chegaram a residentes do sul do país, indicando que saíssem de territórios onde o Hezbollah atua ou armazena armas.

A popular estação de rádio Voice of Lebanon afirmou ter sido hackeada pelas forças israelenses, que transmitiu a mensagem de evacuação ao vivo. As Forças Armadas israelenses também publicaram um mapa mostrando 19 aldeias e cidades no sul do Líbano que estariam dentro do escopo das ações militares, mas não detalhou quais delas seriam alvos dos novos ataques ou deveriam ser evacuadas.

Libanês verifica mensagem recebida em seu celular, convocando pessoas a se retirarem de áreas onde o Hezbollah esconde suas armas — Foto: Joseph Eid/AFP

Questionado se o anúncio indicava que Israel preparava uma invasão terrestre do território libanês, Hagari afirmou que, no momento atual, o foco seria apenas na "campanha aérea". Em uma declaração posterior, o porta-voz disse que os moradores do Vale do Beeka, no sudeste do Líbano, tinham duas horas para deixarem locais usados pelo Hezbollah, indicando novos ataques nas próximas horas.

Ainda durante a manhã, o Ministério da Saúde do Líbano afirmou que ao menos 182 pessoas morreram e mais de 700 ficaram feridas durante os bombardeios israelenses, sobretudo no sul do país. Ainda de acordo com a autoridade de saúde governamental, mulheres, crianças e trabalhadores de saúde estão entre os mortos e feridos. As Forças Armadas de Israel afirmam que mais de 300 alvos foram bombardeados nesta segunda.

Em Beirute, alvo de um bombardeio na sexta-feira, escolas particulares pediram que os pais de alunos buscassem seus filhos, diante da possibilidade de ataques. Do lado de fora de uma escola no leste da capital, o New York Times descreveu uma cena de confusão, com a rua congestionada pelo trânsito, dezenas de estudantes de ensino médio a espera de seus responsáveis, e estudantes mais novos saindo correndo da escola, segurando as mãos dos pais.

A troca de hostilidades entre Israel e Hezbollah atingiu um ponto crítico desde o início da guerra em Gaza. A situação escalou na semana passada, quando uma operação atribuída aos israelense — negada pelo presidente do país no fim de semana — explodiu milhares de aparelhos pager e walkie-talkies usados pelo grupo libanês. Dezenas morreram e mais de 3 mil ficaram feridos, segundo as autoridades libanesas.

O Hezbollah respondeu com força. Centenas de foguetes foram disparados de diferentes pontos do sul do Líbano contra o norte de Israel, forçando as autoridades do Estado judeu a fecharem o espaço aéreo de parte do país no fim de semana e emitirem restrições de segurança para a população civil. No domingo, o grupo disparou cerca de 150 foguetes, mísseis de cruzeiro e drones, atingindo uma área civil perto de Haifa, a terceira cidade mais importante do país.

Ataque contra Israel

Após os novos ataques israelenses na manhã desta segunda-feira, o Hezbollah voltou a retaliar. Sirenes de alerta voltaram a soar no norte de Israel, com as Forças Armadas confirmando que 35 projéteis foram lançados contra a cidade de Safed, um dos principais alvos do movimento libanês até o momento. Eles foram abatidos ou caíram em áreas abertas, disseram os militares. Serviços de emergência registraram cinco pessoas com ferimentos leves.

A promessa do Hezbollah é de que as ações israelenses no Líbano não passarão sem resposta. O grupo afirmou que só vai suspender as hostilidades contra o Estado judeu quando um cessar-fogo em Gaza for obtido. O movimento libanês é aliado do grupo palestino Hamas, no Eixo da Resistência.

Comparação entre os poderes militares de Israel e do Hezbollah — Foto: Arte/O GLOBO

Em meio aos ataques do Hezbollah, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, declarou que a população israelense "precisará mostrar calma, disciplina e total conformidade com as instruções do Comando da Frente Interna" nos próximos dias. Moradores de Katzrin, no norte de Israel, foram instruídos a permanecer perto de abrigos e evitar lugares lotados até novo aviso — uma recomendação que vem sendo reiterada desde a semana passada.

Após o bombardeio de domingo perto de Haifa, o vice-líder do Hezbollah, Naim Qassem, afirmou que o ataque era "apenas o começo” da represália a Israel, afirmando que o conflito havia entrado em “um novo estágio”.

— [O Hezbollah lutará contra Israel] de onde eles esperam e de onde eles não esperam — disse Qassem.

Enquanto isso, em Beirute, as autoridades do governo libanês — que se viu em meio ao fogo-cruzado entre Israel e Hezbollah — continua tentando lidar com o impacto dos ataques israelenses. O Ministério da Saúde do país determinou que os hospitais do sul cancelem a realização de cirurgias eletivas para se concentrarem nos atendimentos de urgência em meio aos bombardeios.

Em paralelo, equipes de resgate continuavam a vasculhar o local de um bombardeio israelense na sexta-feira, que matou Ibrahim Aqil, comandante do braço armado do Hezbollah. A estimativa é de que entre 10 e 15 pessoas sigam presas nos destroços do prédio residencial atingido — Israel afirma que o local era utilizado para reuniões e planejamento de atividades do movimento libanês. (Com AFP e NYT)


Fonte: O GLOBO